terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O Calvinismo segundo Entendo

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Calvinistas estão entre as tradições religiosas mais mal compreendidas da história da Igreja. Sei perfeitamente que alguns deles fizeram por merecer. Há calvinistas que defendem suas convicções sem caridade, gentileza e sensibilidade para com quem diverge. Outros, não conseguem ouvir quem não seja calvinista. Não considero essas atitudes como intrínsecas ao calvinismo. As pessoas são assim porque lhes faltam domínio próprio e humildade, e não porque são calvinistas. Não há nada no calvinismo que exija que calvinistas sejam rudes, intransigentes, mal educados, excessivamente críticos e arrogantes.

Boa parte das acusações que têm sido feitas aos calvinistas, além de serem generalizações injustas, parecem proceder de uma falta de conhecimento adequado do que os calvinistas realmente acreditam. Como não falo por todos, vou dizer o que eu penso sobre alguns desses pontos mais polêmicos.

Para começar, o calvinismo não é um bloco monolítico. Há várias correntes dentro dele. Todas se vêem como legítimas herdeiras do legado de João Calvino, desde presbiterianos liberais até puritanos modernos. Considero-me um calvinista dentro da tradição teológica que elaborou e até hoje mantém a Confissão de Fé de Westminster, muito similar às demais confissões reformadas dos batistas, congregacionais, episcopais e reformados.

1 – Creio que Deus predestinou tudo o que acontece, mas não sou determinista. O Deus que determinou todas as coisas é um Deus pessoal, inteligente, que traçou seus planos infalíveis levando em conta a responsabilidade moral de suas criaturas. Ele não é uma força impessoal, como o destino. Não creio que os atos da vontade e da liberdade humanas sejam mera ilusão e que nossa sensação de liberdade ao cometê-los seja uma farsa, como o determinismo sugere. Eu acredito que as nossas decisões e escolhas são bem reais e que fazem a diferença. Elas não são uma brincadeira de mau gosto da parte de Deus. Os hipercalvinistas são deterministas quando negam a responsabilidade humana ou pregam a passividade dos cristãos diante de um futuro inexorável. Por desconhecer essa distinção, muitos pensam que todos os calvinistas são deterministas e que eles vêem o homem como um mero autômato.

2 – Creio que Deus é absolutamente soberano e onisciente sem que isso, contudo, anule a responsabilidade do homem diante dele. Para mim, isso é um mistério sem solução debaixo do sol. Não sei como Deus consegue ser soberano sem que a vontade de suas criaturas seja violentada. Apesar disto, convivo diariamente com essas duas verdades, pois vejo que estão reveladas lado a lado nas Escrituras, às vezes num mesmo capítulo e até num mesmo versículo! (Ex: Atos 2:23).

3 – Encaro a relação entre a soberania de Deus e a responsabilidade humana como sendo parte dos mistérios acerca do ser Deus, como a doutrina da Trindade e das duas naturezas de Cristo. A soberania de Deus e a responsabilidade humana têm que ser mantidas juntas num só corpo, sem mistura, sem confusão, sem fusão e sem diminuição de ambas.

4 – Creio que Deus predestinou desde a eternidade aqueles que irão se salvar e, ao mesmo tempo, oro pelos perdidos, evangelizo e contribuo para a obra missionária. Grandes missionários da história das missões eram calvinistas convictos. Calvinistas pregam sermões evangelísticos e instam para que os pecadores se arrependam e creiam. Se quiserem um bom exemplo, leiam O Spurgeon que Foi Esquecido, de Iain Murray, publicado pela PES. Nunca as minhas convicções sobre a predestinação me impediram de ir de porta em porta, oferecendo o Evangelho de Cristo a todos, sem exceção. Após minha conversão, e já calvinista, trabalhei como evangelista e plantador de igrejas durante vários anos, em Pernambuco.

5 – Creio que Deus já sabe, mas oro assim mesmo. Sei que ele ouve e responde, e que minhas orações fazem a diferença. Contudo, sei que ao final, através de minhas orações, Deus terá realizado toda a sua vontade. Não sei como ele faz isso. Mas, não me incomoda nem um pouco. Não creio que minha oração seja um movimento ilusório no tabuleiro da predestinação divina.

6 – Não creio que Deus predestinou todos para a salvação. Da mesma forma, não creio que ele foi injusto nem fez acepção de pessoas para com aqueles que não foram eleitos. Não creio que Deus tenha predestinado inocentes ao inferno, pois não há inocentes entre os membros da raça humana. E nem que ele tenha deixado de conceder sua graça a pessoas que mereciam recebê-la, pois igualmente não há pessoa alguma que mereça qualquer coisa de Deus, a não ser a justa condenação por seus pecados. Deus predestinou para a salvação pecadores perdidos, merecedores do inferno. Ao deixar de predestinar alguns, ele não cometeu injustiça alguma, no meu entender, pois não tinha qualquer obrigação moral, legal ou emocional de lhes oferecer qualquer coisa. Penso assim pois entendo que a Queda de Adão veio antes da predestinação na seqüência lógica (não na seqüência histórica) em que Deus elaborou o plano da salvação.

7 – Creio que Deus sabe o futuro, não porque previu o que ia acontecer, mas porque já determinou tudo que acontecerá. Por isso, entendo que a presciência de que a Bíblia fala é decorrente da predestinação, e não o contrário. Quem nega a predestinação e insiste somente na presciência de Deus com o alvo de proteger a liberdade do homem tem muitos problemas. Quem criou o que Deus previu? E, se Deus conhece antecipadamente a decisão livre que um homem vai tomar no futuro, então ela não é mais uma decisão livre. Nesse ponto, reconheço a coerência dos socinianos e dos teólogos relacionais, que sentiram a necessidade de negar não somente a soberania, mas também a presciência de Deus, para poderem afirmar a plena liberdade humana.

8 – Creio que apesar de ter decretado tudo que existe desde a eternidade, Deus acompanha a execução de seus planos dentro do tempo, e se comunica conosco nessa condição. Quando a Bíblia fala de um jeito que parece que Deus nem conhece o futuro e que muda de idéia o tempo todo, é Deus falando como se estivesse dentro do tempo e acompanhando em seqüência, ao nosso lado, os acontecimentos. É a única maneira pela qual ele pode se fazer compreensível a nós. Quem melhor explica isso é John Frame, no livro Nenhum Outro Deus, lançado pela Editora Cultura Cristã. Minha esposa teve o privilégio de traduzir e eu de prefaciar essa obra, a primeira em português a combater a teologia relacional.

9 – Creio que Deus é soberano e bom, mas não tenho respostas lógicas e racionais para a contradição que parece haver entre um Deus soberano e bom que governa totalmente o universo, por um lado, e por outro, e a presença do mal nesse universo. Diante da perversidade e dos horrores desse mundo, alguns dizem que Deus é soberano mas não é bom, pois permite tudo isto. Outros, que ele é bom mas não é soberano, pois não consegue impedir tais coisas. Para mim, a Bíblia diz claramente que Deus não somente é soberano e bom – mas que ele é santo e odeia o mal. Ao mesmo tempo, a Bíblia reconhece a presença do mal do mundo e a realidade da dor e do sofrimento que esse mal traz. Ainda assim, não oferece qualquer explicação sobre como essas duas realidades podem existir ao mesmo tempo. Simplesmente pede que as recebamos, creiamos nelas e que vivamos na cereteza de que um dia ele haverá de extinguir completamente o mal e seus efeitos nesse mundo.

10 – Estou convencido que o calvinismo é o sistema doutrinário mais próximo daquele ensinado na Bíblia, ao mesmo tempo em que confesso que ele não tem todas as respostas. Todavia, estou convencido que os demais sistemas têm menos respostas ainda. Leio autores das mais diferentes persuasões teológicas. Às vezes tenho sido mais desafiado e tenho aprendido mais com livros de outras tradições. Não deixo de ouvir alguém somente porque não é calvinista. Há calvinistas que não são assim. Contudo, é uma injustiça acusar a todos de estreiteza, sectarismo, obscurantismo e preconceito.

Espero ter deixado claro que um calvinista, para mim, é basicamente um cristão que tem a coragem de aceitar as coisas que a Bíblia diz sobre a relação entre Deus e o homem e reconhecer que não tem explicações lógicas para elas. Para muitos, esse retrato é de alguém teologicamente fraco e no mínimo confuso. Mas, na verdade, é o retrato de quem deseja calar onde a Bíblia se cala.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O uso e abuso da história da igreja






A história da Igreja Cristã, se corretamente considerada e usada, pode ser uma grande fonte de força, sabedoria e estabilidade para o cristão sério. Por outro lado, a história da Igreja, quando considerada erroneamente e usada de maneira equivocada, pode ser uma pedra de tropeço, uma ocasião de fraqueza e estagnação. Há três atitudes para com a história passada da Igreja que são erradas e que podem somente impedir a força verdadeira e o progresso no testemunho da Verdade. Essas três atitudes são: [1] Romantizando o passado; [2] Absolutizando o passado; e [3] Desdenhando o passado. Consideremos cada uma delas.

1. Romantizando o Passado

Romantizar o passado significa dar-lhe, em nosso pensamento, uma qualidade ideal ou perfeita que de fato ele não possui. Frequentemente isso envolve o anacronismo de ler o presente no passado, em vez de ver o passado e interpretá-lo como aquilo que ele realmente foi.
Dois exemplos dessa tendência vêm à mente. O primeiro consiste em romantizar a antiga Igreja Britânica ou Céltica — os primeiros séculos do cristianismo na Inglaterra e Irlanda — antes da invasão Anglo-Saxã da Inglaterra e antes do domínio do romanismo. Que a Antiga Igreja Britânica ou Cética era naqueles tempos tão pura quanto qualquer parte do mundo cristão, ou até mesmo mais pura que todas as outras, não questionamos. Mas a tentativa de alguns autores retratarem a Antiga Igreja Britânica como essencialmente calvinista na doutrina e presbiteriana na forma de governo, e em cima disso sustentar que ela preservou em alguns lugares uma continuidade ininterrupta da vida corporativa até a Reforma Protestante, ao longo de mil anos da Idade Média, só pode ser considerado como uma romantização da história sem fundamento.
Similarmente, o movimento valdense do norte da Itália tem sido romantizado, nem tanto pelos valdenses em si, mas pelos escritores em países de fala inglesa. A alegação que os valdenses tinham uma vida corporativa distinta quase similar, se não totalmente, ao período apostólico, e continuando claramente ao longo da Idade Média até os tempos de Martinho Lutero e a Reforma, e que durante esse longo período de quase um milênio e meio eles foram sempre distintos do catolicismo romano, é impossível de sustentar por evidência histórica válida. Antes, a evidência real indica que o movimento valdense originou-se no século 12, aproximadamente 400 anos antes de Martinho Lutero e a Reforma Protestante. Além disso, os valdenses não eram evangélicos ou protestantes no sentido apropriado desses termos. É possível — ou até mesmo provável — que eles acreditavam no sacerdócio universal dos crentes. É verdade que eles se opunham a alguns dos abusos e pretensões mais sérias da Igreja de Roma. Mas eles não sustentavam a ênfase e o cerne real do Protestantismo — a doutrina da justificação pela fé somente — de nenhuma maneira consistente ou apropriada, até que aprenderam-na com a Reforma Luterana no século 16. É ainda mais anti-histórico tentar manter que os valdenses medievais eram calvinistas e presbiterianos antes da Reforma. Que eles foram testemunhas notáveis e fieis da verdade de Deus não pode ser negado, e deveríamos honrar a sua memória por isso. Mas é uma romantização imprópria da história considerar esses santos como virtualmente calvinistas e presbiterianos numa Itália e França medieval.

2. Absolutizando o Passado

Absolutizar o passado significa considerar alguma época ou período no passado como ideal e normativo para todos os tempos vindouros. O tempo logo após a morte dos apóstolos, ou o tempo dos grandes Concílios da Igreja Primitiva, ou o tempo de Lutero, Knox e Calvino, ou o tempo da Segunda Reforma e a Assembleia de Westminster, são nostalgicamente considerados como “os velhos e bons dias” e a ideia mantida é a seguinte: que aquilo que a Igreja de nossos dias realmente precisa é voltar em espírito àqueles tempos e ali permanecer. Essa tendência surge de uma falta de perspectiva histórica, frequentemente combinada com um grau considerável de ignorância histórica, e uma falha em reconhecer a imperfeição e o relativismo de todas as realizações humanas, mesmo das melhores e mais nobres feitas em submissão a Deus.
Um exemplo dessa tendência é a noção não incomum de que os credos ou padrões oficiais de uma igreja são sacrossantos e que é algo errado e ímpio procurar alterá-los em algum detalhe, ou mesmo reexaminá-los à luz da Escritura. Essa absolutização do passado conflita inevitavelmente com a autoridade da Escritura como o padrão absoluto de fé e prática. Se há alguns elementos ou fases da história passada da Igreja que devem ser considerados como isentos do julgamento da Escritura, então a Bíblia não é mais a nossa única regra infalível de fé e prática. Se a Escritura é realmente a única regra infalível de fé e prática, então tudo na história da Igreja desde que o Novo Testamento foi finalizado está sujeito ao julgamento de Deus falando na Escritura. Deixamos de honrar a Confissão de Westminster se, por exemplo, atribuímos a ela uma autoridade que pertence somente à Escritura, e assim considerá-la e tratá-la como se fosse infalível. Mas a pessoa que considera ímpio ou profano dizer que tal credo pode ser alterado, sobre a base de um estudo adicional da Bíblia, está tratando esse credo como infalível e dando-lhe uma posição que pertence somente à Palavra de Deus. O presente escritor considera a Confissão de Fé de Westminster a melhor declaração da verdade cristã em forma de credo que já foi formulada. Mas ela não é a Palavra de Deus, e assim não é infalível. Ela foi composta por homens que eram de fato eruditos e piedosos, mas ainda sim falíveis em si mesmos e capazes de erro.
E, novamente, quando as pessoas consideram a Reforma como uma conquista fixa e consumada de uma vez por todas, elas estão absolutizando a história. A Reforma Protestante foi parte de um processo histórico.“Ecclesia reformata reformanda est”— a Igreja, tendo sido reformado, continua sendo reformada. Como a santificação, a reforma da Igreja é um processo sem nenhum ponto final na história.

3. Desdenhando o Passado

Desdenhar ou desprezar o passado é uma reação contra as tendências de romantização e absolutização. A pessoa que desdenha o passado falha em apreciar suas conquistas e valores reais. Isto é, ele fracassa em perceber o que Deus já fez na história passada de sua Igreja.
Alguém disse que “Ninguém jamais aprendeu algo da história exceto que ninguém aprende algo da história”. Em grande medida, vivemos numa era que superestima o presente e despreza o passado. Alguns podem dificilmente mencionar os covenanters escoceses do século 17 e suas lutas sem um sorriso de escárnio. As testemunhas e os mártires recebem um elogio parco por uma atitude que diz, em efeito, “Os covenanters foram importantes sem dúvida, mas…”
Todo verdadeiro progresso está construindo sobre fundamentos lançados no passado. Somente captando e apreciando o passado podemos ter uma atitude verdadeiramente válida para com o presente, e somente assim podemos construir um futuro sólido. A pessoa que diz “História é bobagem” está desonrando a Deus, que por sua obra de criação e providência fez a história aquilo que ela é.
Em nossos dias esse grande monumento histórico da Fé Reformada — a Confissão de Fé de Westminster — foi posto de lado como uma peça de museu por grande parte do corpo presbiteriano na América, e uma “nova confissão” a substituiu como o padrão denominacional realmente em vigor. E essa “nova confissão” é na verdade uma rejeição de grande parte da verdade alcançada e testemunhada na Confissão de Westminster histórica. Isso é verdadeiramente um desdenhar da história.
Não é incomum encontrar pessoas com uma atitude de desdém para com os covenanters escoceses históricos e os antigos pactos escoceses. Não fomos salvos pela história dos covenanters, mas sim pela fé em Jesus Cristo. Mas deixamos de honrar ao Senhor se desprezamos o que ele fez em e por meio do seu povo nos tempos passados.
A atitude desdenhosa tem suas raízes no orgulho — o orgulho da ignorância. Alguém disse que há três tipos de orgulho: orgulho de raça, orgulho de rosto e orgulho de graça,** e esse orgulho de graça é o pior dos três. Mas sem dúvida podemos classificar com esses o orgulho da ignorância como uma das piores formas de orgulho. Há pessoas que de fato se gloriam em sua vergonha, que se orgulham verdadeiramente de que são ignorantes de teologia e história da igreja.
Não somos os primeiros cristãos inteligentes ou fieis que já viveram. Cristo, por meio do seu Espírito, sempre esteve ativo, trabalhando ao longo da história passada de sua Igreja. Prestemos atenção à injunção bíblica de “provar todas as coisas e reter o que é bom”. Não romantizemos o passado, não absolutizemos o passado e não desprezemos o passado. Antes, que possamos avaliá-lo com justiça e valorizá-lo sabiamente, para a honra e glória de Deus.

NOTAS:
* Covenanters: Os membros da Igreja da Escócia que assinaram o Pacto (Covenant) Nacional Escocês de 1638, que os obrigava a manter a Igreja da Escócia como foi organizada durante a Reforma, isto é, presbiteriana. Eles participaram em combate armado em obediência ao pacto assinado.
** O autor usa um jogo de palavras aqui: race, face, grace.


Escrito por: J. G. Vos 
Retirado de: monergismo.com



quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Você tem Dúvida de Sua Eleição?


Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros... João 15:16

Biblicamente nós não temos a liberdade de escolher ou eleger a Deus, a liberdade de escolha pertence ao SENHOR. Não há em nós nenhuma legitimidade nem elegibilidade para merecermos a salvação. Sendo, assim, e cremos, perguntemos individualmente: como posso saber se sou ou não um eleito? Você tem dúvida de sua eleição?
“Ao SENHOR pertence a salvação!” (Jonas 2.9) É isso: a salvação vem de Deus, o SENHOR. O que moveu a escolha dEle? Seguramente Seu Senhorio e Soberania tão-somente. Pois de outro modo como poderia existir em mim algo digno de eleição?
Não há meio termo, ou foi a livre escolha de Deus que me escolheu ou estou perdido! Não há salvação sem Eleição (incondicional!). Efésios 1:4 nos diz: assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele... Antes mesmo da criação de Adão, Deus já nos havia escolhido para sermos dele por meio da nossa união com Cristo. Os eleitos e somente os eleitos serão salvos! Nós sabemos disso! Deus salva somente os eleitos, - há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum! Rm 9.15. - Muros intransponíveis são os Seus decretos!
Se não podemos fazer nada por nossa eleição, e cremos nisto, como podemos saber se somos eleitos? Para quem acha que esse tipo de questionamento não é algo legítimo, é saudável citar William Perkins – um velho puritano da Inglaterra – para desfazer qualquer mal entendido. Não citarei suas palavras, mas seu conceito sobre um determinado aspecto da salvação: É possível duvidar da própria eleição? Sim, é. É possível um eleito regenerado ter ânimo dobre? (ser uma pessoa que não tem firmeza e nunca sabe o que deve fazer?) Sim, é possível. - Tiago 1:8. – Pode um eleito regenerado cair em desespero e duvidar da própria fé? Sim. Tudo isso pode acontecer como tentações, mas para todos os males espirituais que atingem os eleitos há remédio! Não precisa entrar numa crise existencial ou coisa parecida.
Se você tem dúvida de sua eleição, há três doutrinas especiais que você precisa urgentemente estudar ou rever: Chamada Eficaz (ou Vocação Eficaz), Justificação e Santificação. Se você tem passado por ânimo dobre, desespero e dúvida da fé, concentre-se nas doutrinas da Justificação e Santificação. Não há outro remédio. Deus não enviará uma voz do céu para dizer que você é um filho(a) amado(a)! Se você tem dúvida da sua justificação, concentre-se somente na doutrina da Santificação. Se você tem dúvida de sua eleição, o recado está dado, o que você está esperando? Vá orar e estudar!

por
Raniere Menezes

AMADO E ESCOLHIDO ANTES DA FUNDAÇÃO DO MUNDO!




"Eram teus e Tu mos deste a Mim" – João 17.6 – João saboreia em seus escritos essa verdade estupenda, que cada verdadeiro cristão, cada homem que de fato foi regenerado, é um dom de amor do Pai ao Filho. Esse é um pensamento maravilhoso. Um dom do Pai para o Filho – “Tu deste para mim” – Cristo mesmo disse: “Ninguém vem a Mim se o Pai que me enviou não o trouxer”.


Em João 6 versos 37, 39, 44... Jesus fala de cada verdadeiro crente como um dom de amor do Pai. Ele diz: “Todo aquele que o Pai me dá, esse vem a mim, e eu de maneira nenhuma o lançarei fora... não perderei nenhum deles, mas os ressuscitarei no último dia. Quando o Pai lhe dá como um dom de amor ao Filho, este é um dom eterno. Assim Jesus está orando por eles:


Em João 10, Jesus está falando sobre suas ovelhas e Ele diz, no versículo 27: "As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço pelo nome e elas me seguem – Isso é tão claro e tão maravilhoso: “Eu lhes dou a vida eterna e elas jamais perecerão, ninguém pode arrebatá-las da minha mão” – Por que? “Meu Pai, que me deu é maior do que todos, e ninguém é capaz de arrancá-las de Suas mãos”.


Então Ele ora por eles: “Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus.” João 17:9 – Esses que Ele ama, Ele ama até o fim e sem fim.


Sem começo – Você era amado em Cristo antes da fundação do mundo (Ef 1.4 – compare com João 17.23,24) – e todos os afetos do Deus trino em sua direção foram sempre ligados a Cristo, que era o seu representante antes dos tempos eternos. Cristo sempre esteve com seus olhos nos seus: O seu amor é eterno (Jeremias 31.3).


Um grau superlativo – Cristo é tido como um exemplo de amor extravagante: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos” (João 15.13).


Não só declarado, mas demonstrado – Muitos falam de amor mas nunca chegam ao verbo – não amam. Mas Cristo não só fala de seu amor por aqueles que o Pai lhe deu, Ele o demonstra de inúmeras maneiras. Como João encorajou os santos: “Não amemos de palavra, nem de língua, mas por obras e em verdade” (1 João 3.18) – assim Cristo mostra um amor que está em obras e em verdade.


Provado além de qualquer dúvida – Há momentos em que a nossa confiança no amor de Cristo pode ser abalada, para nossa grande vergonha, mas assim que olhamos para a cruz, podemos dizer como Paulo, Ele “me amou e se entregou por mim” (Gl 2.20). A cruz bane qualquer possibilidade de não descansar no ser eterno amor.


Além do conhecimento humano – É um oceano sem limites, a visão humana é pobre e fica ainda mais empobrecida diante da sua imensidão – uma amor que ultrapassa todo o entendimento (Ef 3.19).


Não derrotado pelo pecado – Pecado é repulsivo e repugnante ao um grau infinito por um Deus santo – esse é o grande obstáculo que o amor deve superar – ( 1Pe 4.8) – mas a custo de sua vida santa, pelos que o Pai lhe deu, o amor de Cristo não deixa de superá-lo, e não pôde ser derrotado por ele. Pelo contrário, é em face do pecado que o amor mostra a sua verdadeira profundidade: “Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.”Romanos 5:6-8


Paga o resgate completo pelo amado – Para adquirir aqueles sobre os quais o Pai lhe deu e que tinham sido preparados para o seu amor, o Filho pagou tudo o que era necessário. O Bom Pastor disse: “Eu dou a minha vida pelas ovelhas” (João 10.15). O sangue deve ser derramado, a vida deve ser dada, e Cristo não conteve ou protegeu nada de si mesmo ao fazer expiação por aqueles que eram objeto do seu amor eterno.


Um interesse incessante em clamor – Muitas vezes o amor se esvai – grandes e fervorosas declarações de amor dão lugar a manifestações mornas com o tempo. Mas não com Cristo: Ele vive sempre pare interceder por seu povo, por aqueles que são um dom do Pai a Ele (Hebreus 7.25). Tendo morrido por eles, ele vive por eles, e eles são objeto constante de suas perfeitas orações. Você pode imaginar que o Senhor do céu, o Criador... tem orado por você hoje?


É o fundamento de nossa certeza – Ele nos assegura absolutamente esse amor. Cristo é o fundamento da nossa certeza, o cabo que nos une para sempre a Deus: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; Somos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” -Romanos 8:35-39 – Ou seja, tendo sido amado na eternidade, não é possível deixar de ser tão amado no tempo e na eternidade futura.


Amor que não ignora o pecado em nós – “Eu repreendo e castigo a todos quantos amo” - Apocalipse 3:19 – Um amor que não se importa com a presença do pecado no seu objeto não é realmente amor – seria como estar feliz pelo objeto do seu amor viver na imundície abjeta.


Produz santidade – O amor que repreende  e castiga o pecado no objeto do seu amor, positivamente leva-o a santidade. Esses são meios usados para produzir santidade objetiva na vida do objeto do Seu amor. O objetivo e sermos participantes de Sua santidade: “Porque o Senhor corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos. Além do que, tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, para vivermos? Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas este, para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade.” - Hebreus 12:6-10


Durará para sempre – É um amor eterno (Jeremias 31.3) – que se estende não só para a eternidade passada, mas para a eternidade futura.  Jamais deixaremos de ser amados por Cristo. Quando Cristo voltar os mortos ressuscitarão primeiro, e “depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor.” - 1 Tessalonicenses 4:17 –Para sempre com o Senhor! Aquele que nos amor e se entregou por nós!


Quem de fato entendeu isso, gasta toda a sua vida em sacrifício vivo santo e agradável a Deus. Se deliciando num santo viver que sobe como um cheira suave a Deus ( Romanos 12.1,2) – Você tem uma percepção verdadeira desse amor – isso é mostrado em como isso se expressa. Aumenta nossa gratidão numa imensidão crescente e sem limites: “Por isso te digo que os seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco é perdoado pouco ama.” Lucas 7:47


Esse amor tem te levado a um espanto humilde? Você pode dizer como João: “Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados.” - 1 João 5:3


Ser tão amado obrigatoriamente nos leva a colocar todo nosso amor naquele que nos ama: “Nós o amamos porque ele nos amou primeiro” ( 1 João 4.19) -  Recebemos agora cada dia como uma oportunidade de manifestar nosso amor por Ele: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.” -  João 14:21

Como Paulo temos que dizer: “Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram.”2 Coríntios 5:14

Realmente te constrange? Então você é um dom de amor do Pai para o Filho, e isso é tão eterno, como eterna é a Trindade

Escrito por Josemar Bessa
Retirado do site: fidesreformata.com

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Augustus Nicodemus- PREDESTINAÇÃO


Um calvinista compartilha o Evangelho


John Piper 

Eis aqui uma conversa entre um incrédulo e um evangelista que acredita na doutrina da expiação definitiva (algumas vezes desafortunadamente chamada de “expiação limitada”) — o ensino bíblico que quando Jesus morreu, o propósito inalterável de Deus foi cancelar os pecados e a sentença de morte de todos os que ele deu ao Filho (João 6.39).
Incrédulo: Então, o que você está me oferecendo?
Evangelista: Salvação da ira de Deus e dos seus pecados. Vida eterna!
Incrédulo: Como?
Evangelista: Quando Jesus, o Filho de Deus, morreu, ele absorveu a ira de Deus, removeu-a, e assumiu a culpa do pecado por todos aqueles que confiam nele.
Incrédulo: Ele fez isso por mim?
Evangelista: Se você for tê-lo — recebê-lo — terás tudo o que ele é e tudo o que ele fez. Se você confiar nele, sim, ele fez isso por você.
Incrédulo: Então você não sabe se ele fez isso por mim?
Evangelista: Ele está se oferecendo agora a você gratuitamente. Ele está oferecendo a você uma obra de redenção maravilhosa e consumada — tudo o que ele fez ao absorver a ira de Deus e cancelar os pecados. Tudo isso é seu para ter agora mesmo. Se você não a tiver, então a obra não é sua. Se tiver, então ela é. Há somente uma forma de saber se os seus pecados foram cancelados e sua sentença de morte comutada na morte de Jesus. Creia nele. Sua promessa é absoluta: Se você crer, será salvo. Se não crer, você permanece no pecado, e sob a ira de Deus.
Incrédulo: Então o que você está me pedindo para receber?
Evangelista: Jesus. Receba Jesus! Porque Jesus fez de fato essas coisas. Ele realmente assegurou a liberdade do seu povo da ira de Deus. Ele verdadeiramente carregou os pecados deles em seu corpo no madeiro. Se você o receber, você é um deles. Você está incluso. Tudo isso é verdade para você. Ele oferece a você gratuitamente agora mesmo.
Incrédulo: Pensei que poderia saber se Jesus morreu por mim antes de acreditar. É assim que sempre fui informado: Creia nele, pois ele morreu por todo o mundo.
Evangelista: Não posso dizer com certeza, mas as pessoas que te ensinaram isso provavelmente queriam dizer o seguinte: Jesus morreu para que o evangelho pudesse ser oferecido a todos, e todos os que creem serão salvos. Isso é verdade. Mas se eu assegurasse a você, antes de você crer, que os seus pecados foram cancelados e que sua liberdade da ira de Deus foi obtida, eu te enganaria. Imagine se eu dissesse para você: Jesus certamente obteve a sua libertação da ira de Deus e com certeza perdoou todos os seus pecados. Agora creia nisso. O que você diria?
Incrédulo: Eu diria: Maravilha! E se eu não crer agora? Ainda estou salvo, correto? Afinal, os meus pecados foram perdoados com certeza. Está feito!
Evangelista: Sim, isso é provavelmente o que você diria, e você estaria errado. Mas isso porque eu teria enganado você. As boas novas que Jesus tem para você antes de você crer nele não é que seus pecados foram certamente cancelados. As boas novas é que Jesus realmente propiciou a ira de Deus, e realmente perdoou os pecados do seu povo. Está consumado. E isso é o que eu ofereço a você. É completo. É glorioso. E a promessa absoluta de Deus a você é: É tudo seu, se você receber a Cristo. Creia no Senhor Jesus Cristo, e você será salvo.
 
Fonte: http://www.desiringgod.org/
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto (10/03/2011).
Monergismo.com

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Hernandes Dias Lopes - predestinação e livre-arbítrio





Jesus, os Fariseus e o Livre-Arbítrio



John Piper 


Para muitos, hoje em dia, é intrigante que Jesus coloque tal valor nos 
direitos soberanos da liberdade eletiva de Deus, a ponto de falar da maneira 
como o faz àqueles que O rejeitam. Ele fala de maneira a impedi-los de 
vangloriarem-se, como se pudessem anular os propósitos últimos de Deus. 
Em João 10.25-26, por exemplo, Jesus respondeu aos céticos que exigiam 
mais e mais provas: “Já vo-lo disse, e não credes. As obras que eu faço em 
nome de meu Pai testificam a meu respeito. Mas vós não credes, porque não 
sois das minhas ovelhas”. Pense nisto por um momento. Pense acerca do que 
significa e no fato que Jesus proferiu tais palavras a pessoas incrédulas. 
Imagine-se como um fariseu ouvindo a mensagem de Jesus e dizendo a 
si mesmo: se Ele pensa que eu vou ser sugado para dentro desse movimento 
junto com coletores de impostos e pecadores, está louco. Eu tenho vontade 
própria e poder para determinar o meu próprio destino. Em seguida, imagine 
Jesus, sabendo o que se passa no seu coração e dizendo: “Você se vangloria 
em seu íntimo porque acha que tem o controle de sua própria vida. Você 
pensa que pode frustrar os planos máximos de meu ministério. Você imagina 
que os grandes propósitos de Deus na salvação são dependentes de sua 
vontade vacilante. Em verdade, em verdade eu lhe digo que a razão final pela 
qual você não crê é porque o Pai não o escolheu para estar entre as minhas 
ovelhas”. Em outras palavras, Jesus está dizendo: “O orgulho final da 
incredulidade é destruído pela doutrina da eleição”. Aqueles a quem Deus 
escolheu, Ele também os deu ao Filho; e aqueles a quem Ele deu ao Filho, o 
Filho também os chamou; e para aqueles que foram chamados, Ele deu sua 
vida; e para esses Ele deu alegria eterna na presença de sua glória. Este é o 
prazer do Pai. 

The Pleasures of God (Os Prazeres de Deus) 
(Portland, Multnomah, 1991), p. 137-139. 
Fonte: Revista Fé para Hoje, Editora Fiel

monergismo.com "Ao Senhor pertence a salvação" Jonas 2.9

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

POLÊMICA


Calvinão é visto usando camiseta com sigla misteriosa juntamente com outros reformadores da depressão e o *BBB Spurgeon.


Mas quem é você, ó homem?






Dir-me-ás então: “Por que se queixa ele ainda? Pois quem tem resistido à sua vontade?”. Mas quem é você, ó homem, para questionar a Deus? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: “Por que me fizeste assim?” Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? (Rm 9.19-21, ESV)
Paulo havia demonstrado nos versículos anteriores que se um homem alcança salvação através de Jesus Cristo, isso não depende da vontade ou decisão da pessoa, mas de Deus, que escolhe mostrar misericórdia a ela. Assim, um homem mostra incredulidade ou mesmo se opõe a Deus não porque decide isso por si mesmo, mas porque Deus escolheu endurecê-lo para uma finalidade que ele próprio tem. O apóstolo conclui: “Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer” (v. 18).
Um homem crê em Jesus porque Deus o faz crer em Jesus. Outro homem é endurecido contra o evangelho porque Deus o torna endurecido. O caminho de cada pessoa é determinado antes de seu nascimento, mesmo na eternidade, antes da criação do mundo. As decisões de uma pessoa não determinam seu caminho, mas seu caminho preordenado determina essas decisões. O destino de um homem não é determinado, mas sim revelado por suas escolhas, isto é, por aquilo que Deus faz o homem decidir de acordo com o propósito divino.
Esta é uma das doutrinas bíblicas mais simples e explícitas. No entanto, é também a doutrina mais detestada, pois da forma mais clara possível revela Deus como sendo Deus, e até mesmo os cristãos que não gostam muito de Deus. Nesta doutrina ficamos frente a frente com o que significa ser Deus, e somos compelidos a mostrar se, de fato, reconhecemos Deus como o total soberano ou se buscamos manter controle sobre alguns aspectos de nós mesmos e acalentar a ilusão de que de fato é possível agirmos assim. Mesmo entre crentes e teólogos que professam a soberania de Deus da boca para fora, muito poucos recebem essa doutrina da causação divina direta e total de todas as coisas sem tentar criar por si mesmos uma saída para escapar disso. Ou eles podem condenar essa versão genuína de Deus e então resgatar Deus reduzindo-o a algo inferior.
Assim, Paulo antecipa a divergência. Ele espera que alguém lhe diga: “Então, por que Deus ainda nos culpa? Pois, quem resiste à sua vontade?” (NVI). Em outras palavras, se é Deus quem endurece uma pessoa para ela não poder buscar a justiça ou crer na verdade, por que Deus ainda condena ou pune o pecador? A objeção não faz sentido a menos que seja assumido que responsabilidade pressupõe liberdade, no sentido de que uma pessoa deveria ser livre para tomar as suas próprias decisões se tivesse de ser responsabilizada por elas. Mas Deus não concorda com essa suposição; na verdade, todos os versículos anteriores repudiam essa ideia. Uma pessoa é condenada e punida por seus pecados porque transgrediu os mandamentos de Deus. A causa de suas transgressões é irrelevante. Se ela transgrediu, é uma transgressora.
Paulo passa a responder ao desafio e no processo revela insights adicionais na doutrina. Declara que o oleiro tem o direito de fazer do mesmo barro um vaso para honra e outro para desonra. O apóstolo está fazendo contraste entre dois tipos de pessoas — os eleitos, aqueles que Deus predeterminou para se tornarem cristãos, e os réprobos, aqueles que Deus predeterminou para continuarem não cristãos. Assim, o vaso para honra representa o cristão e o vaso para desonra representa o não cristão. Provavelmente, o vaso para honra seria representado no ambiente doméstico como um testemunho da riqueza e requinte do proprietário. Por outro lado, o vaso para desonra seria provavelmente relacionado a uma lata de lixo ou até mesmo ao banheiro. Assim, Deus entende que os réprobos são as latas de lixo e os banheiros deste mundo. Sabemos do que são cheios os banheiros — de algo que fede a incredulidade, ciência e religião não cristãs.
A Bíblia contradiz o ponto de vista quase unânime de teólogos cristãos no fato de que a exposição que ela faz da doutrina não deixa espaço em nenhum sentido para a liberdade e a autodeterminação, ou à noção de que a soberania divina é compatível com essas coisas. Por que importa se o controle do oleiro sobre o barro é compatível com os desejos do barro? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: “Por que me fizeste assim?”. O homem não é representado como dizendo de uma forma ou de outra: “Por que passivamente ordenaste que eu deveria usar meu poder de autodeterminação para eu concorrentemente decidir me tornar o que decretaste para eu ser?”. Não, ele diz: “Por que me fizeste assim?”. Tu. Tu me fizeste. Tu me fizeste assim.
Por contato direto e com suas próprias mãos, o oleiro molda o barro no vaso que ele quer que venha a se tornar. Embora isso se aplique tanto ao vaso para honra como ao vaso para desonra, a objeção se refere àqueles a quem Deus “culpa” — a objeção está essencialmente interessada em como o vaso para desonra é fabricado. A resposta de Paulo significa que Deus é ativo em fazer do homem perverso aquilo que ele é. Deus faz isso usando “da mesma massa” da qual faz os vasos para honra e não de algum material com traços desonráveis já presentes. Em outras palavras, as características do réprobo vêm diretamente e totalmente das mãos de Deus e de nenhum outro lugar. Paulo não vê nada de errado nisso. Deus tem o direito de fazer de um homem a sua obra-prima e de outro o seu banheiro. Quem disse que um oleiro mestre não deve fazer um banheiro se ele assim o deseja? E quem é o banheiro para dizer ao oleiro: “Por que me fizeste assim?”. Mas até um banheiro queixoso pode fazer mais do que apenas lamuriar “Tenho livre-arbítrio!” ou mesmo “Eu não sou coagido!”.
A verdade da fé cristã é simples e óbvia. Nunca há uma boa objeção contra ela; ela deve ser reverentemente aceita. E porque a verdade é simples e óbvia, toda objeção à fé cristã é sempre estúpida e má. Porque toda objeção à fé cristã é estúpida e má, devemos atacar toda objeção, e para que não se alegue que evitamos o problema, devemos também respondê-lo. Mas, mais do que isso, é característica da Bíblia atacar a pessoa que faz a objeção. Isso ocorre porque sempre que uma pessoa questiona a fé cristã, necessariamente significa que há algo de errado com a pessoa.
Paulo não diz: “Ó homem inteligente e maravilhoso, por que faz uma objeção tão ultrajante contra Deus?”. Não, o apóstolo ataca o homem diretamente — “Mas quem é você, ó homem, para questionar a Deus?” É uma pergunta retórica — quer dizer que o homem não é ninguém e deve fechar a boca. Paulo não é estúpido como os nossos pregadores e teólogos. Eles nos dizem que os não cristãos podem ser sinceros e inteligentes, e mesmo assim fazer objeções contra Deus. De onde veio esse absurdo? Talvez eles aprenderam isso dos não cristãos, que estão sempre desesperados para afirmar a sua sinceridade e inteligência. Ou talvez os pregadores e teólogos querem saudar a sua própria rebeldia contra Deus. Mas Jesus disse que a boca fala do que está cheio o coração. O não cristão faz objeções porque é um pecador, um rebelde — ele não apenas age como um, mas é um. Qualquer cristão que faz uma contribuição significativa em pregações ou debates deve criticar e depreciar a pessoa — o próprio não cristão — e não apenas seus argumentos e suas ações.
Quem é você, ó não cristão, para desafiar a verdade de Deus, quando a Bíblia declara que você já sabe sobre ele? Como um covarde, como uma criancinha assustada, você reprime esse conhecimento para que não precise lidar com a realidade. Quem é você para rejeitar um veredito de culpado quando a Bíblia mostra que todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus? Você retruca: “Quem é você para me julgar?”. Bem, quem é você para dizer que não devo declarar o julgamento de Deus sobre você? Quem é você para recusar o evangelho? Você não é ninguém. Você não é nada.
Quem é você, ó legalista, ó religioso hipócrita, para recusar a Jesus Cristo, quando a própria Lei diz a você para abandonar seus próprios esforços e depender de Jesus como seu mediador e defensor? Quem é você para pensar que pode ser seu igual ou superior? Quem é você para dizer que pode alcançar o céu com o que considera boas obras, quando Deus as rejeita como trapos de imundícia? Você não é ninguém. Você não é nada.
Quem é você, ó arminiano, para dizer que Deus não decreta e causa todas as coisas unicamente por sua própria vontade e para o seu próprio propósito, e sem considerar a fé e a decisão do homem, pois Deus causa a fé e a decisão do homem por causa de seu decreto eterno? Quem é você para pensar que o homem tem poder de escolher, até mesmo para decidir o seu destino eterno? Quem é você para dizer que Cristo poderia pagar o preço para redimir um homem e, contudo, perder o homem para a ira de Deus? E quem é você para dizer que um homem, uma vez apreendido por Deus, pode livrar a si mesmo das mãos de Cristo? Você não é ninguém. Você não é nada.
Quem é você, ó calvinista, para dizer que Deus não pode ser o autor do pecado e aquele que diretamente cria e endurece homens perversos? Quem é você para dizer que Deus meramente ignora os réprobos, quando as Escrituras afirmam que Deus forma eles por suas próprias mãos como um oleiro molda barro para fazer latas de lixo e banheiros? Seu hipócrita! Finge defender a justiça e a santidade de Deus, quando a questão apenas surge porque você julga Deus pelo padrão do homem. Com uma mão você rouba de Deus a sua soberania, e com a outra o indeniza com justiça humana. Quem é você, ó homem, para pensar que pode ir longe com isso? Você não é ninguém. Você não é nada.
Quem é você, ó teólogo reformado? Você é muito melhor que o arminiano? Repetidamente, ao firmar um pé na ortodoxia e um pé na blasfêmia, você gera inúmeros paradoxos e contradições e chama isso de grande mistério de Deus! Ó vaidade das vaidades, uma teologia de sistemática futilidade!
Fora com todos vocês! Deus exerce controle completo e imediato sobre todas as coisas, incluindo as decisões e destinos de todos os homens. Assim como molda seus escolhidos em suas obras-primas, ele molda os réprobos em recipientes de lixo e fezes. Ao contrário dos nossos pregadores e teólogos, o oponente de Paulo ao menos entende a doutrina: Deus endurece a quem quer (v. 18), para que eles não creiam e sejam salvos. Ele faz isso por seu poder ativo e direto, assim como um oleiro que molda o barro (v. 21). Esses homens são preparados para destruição (v. 22). Eles não podem resistir à vontade de Deus, mas mesmo assim ele os culpa e pune (v. 19). Ele pode fazer isso porque é Deus, e ninguém pode dizer uma palavra contra ele (v. 20).
Tradução: Marcelo Herberts

Monergismo.com

Ser calvinista é o mesmo que ser reformado ?


Uma das discussões contínuas com respeito à ressurgência de interesse no calvinismo gira em torno da distinção (se é que existe alguma) entre calvinismo em particular e teologia reformada em geral. Uma visão calvinista sobre a salvação é sinônimo de teologia reformada? Ou teologia reformada é algo maior do que simplesmente calvinismo? O calvinismo sozinho pode ser considerado reformado?
Michael Horton compartilha seus pensamentos em um artigo intitulado “The Hallway and the Rooms”:
Se ser reformado pode ser reduzido a crer na soberania de Deus e na eleição, então Tomás de Aquino é tão reformado quanto R. C. Sproul. Contudo, a confissão reformada é muito mais do que isso. Até mesmo a forma como ela fala sobre essas doutrinas está enquadrada dentro de um contexto mais amplo da teologia do pacto. É intrigante para mim que as pessoas possam se chamar hoje de reformados mesmo não abraçando essa teologia do pacto.
Mês que vem (nov/2010), o novo livro de Jamie Smith, Letters to a Young Calvinist: An Invitation to the Reformed Tradition [Cartas a um jovem calvinista: um convite à fé reformada], será lançado. Eu tive o privilégio de ler uma cópia antecipada deste livro e escrever uma recomendação. Penso que o livro de Jamie ajuda a discussão muito bem. Jamie é professor de filosofia no Calvin College.
Eis o que eu escrevi:
James K. A. Smith aborda agradavelmente uma das conversas mais fascinantes no evangelicalismo moderno – a ressurgência surpreendente do calvinismo entre os jovens cristãos. Letters to a Young Calvinist: An Invitation to the Reformed Tradition é profundo, sutil, provocativo, relacional e bem informado. Ninguém concordará com tudo aqui, mas o que eu apreciei mais foi a insistência cuidadosa de Smith: para ser teologicamente reformado é necessário muito mais do que crer nos famosos (e fabulosos!) cinco pontos do calvinismo. Ele mostra que a tradição reformada é pactual e cósmica no escopo, grande e brilhante na escala, doutrinária e devocional no espírito. Uma leitura completamente envolvente.
Semana passada Jamie compartilhou em seu blog a razão de escrever o livro e apresentou uma breve descrição dele:
Letters to a Young Calvinist é um convite para ver os outros ribeiros da tradição reformada – valorizar a riqueza complexa das vozes reformadas em todo o espectro. Algumas vezes eu descrevo este pequeno livro como “Kuyper para Piper”. O objetivo é desenvolver no jovem reformado inquieto um interesse nas doutrinas da graça celebrando também outros temas fundamentais da tradição reformada: criação, cultura, pacto e catolicidade, com uma preocupação especial pela apreciação da eclesiologia dos reformadores.
Compre. Leia. Junte-se à discussão – trata-se de uma discussão importante!
Fonte: http://thegospelcoalition.org/blogs/tullian/
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto – março/2011